Os receptores CB1 e CB2 são expressos em níveis baixos em linfócitos normais e em níveis mais elevados em linfomas e leucemias. Revisão sueca, publicada em 2011, confirmou que os canabinoides reduzem a proliferação e induzem a morte celular, isso se dá por indução do apoptose ou outro tipo de morte celular programada com vacuolização citoplasmática. Nos linfócitos normais, os canabinoides atuam em vários processos relacionados à migração celular e resposta à citocinas. Em doses elevadas, inibem a proliferação e induzem a morte celular interferindo no microambiente imunológico relacionado ao linfoma [1]. Em 2008, o mesmo grupo descreveu redução tumoral com a utilização de agonista canabinoide em linfomas de manto e leucemia linfocítica crônica, fato que não aconteceu com linfoma de Burkitt [2].

A leucemia linfoblástica aguda (LLA) é um câncer das células brancas do sangue e é tipicamente bem tratado com quimioterapia com remissão após 5 anos de 94% em crianças e em adultos de 30-40%. Para se estabelecer a agressividade da doença, são necessários testes genéticos para determinar se a leucemia é mieloblástica que envolve neutrófilos, eosinófilos e basófilos, ou linfoblástica envolvendo linfócitos B ou T.

Caso clínico envolvendo um paciente de 14 anos portador de LLA, com positividade para a mutação do cromossoma Philadelphia, que já havia sido submetido a tratamento intensivo de quimioterapia, radioterapia e transplante de medula óssea sem sucesso, que passou a utilizar óleo canábico oral administrado pela família com redução expressiva das células blásticas (malignas) e controle da doença, foi publicado [3].

Controle da população de células blásticas de LLA em paciente de 14 anos tratado com extrato oral de cannabis [PubMed] http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3901602/pdf/cro-0006-0585.pdf

Controle da população de células blásticas de LLA em paciente de 14 anos tratado com extrato oral de cannabis [PubMed]

O papel do Sistema Endocanabinoide nas células neoplásica tem sido motivo de interesse da comunidade científica (clique aqui). Vias metabólicas intra celulares estão envolvidas em processos fisiológicos e patológicos, tanto na neoplasia quanto na inflamação> Muitas dessas vias podem ser moduladas pelo Sistema endocanabinoide.

Dentre os fitocanabinoides mais comuns estão o Canabidiol (CBD) e o Delta 9 Tetrahidrocanabinol (THC), a ação de ambos demonstra efeitos positivos no tratamento das leucemias. Os pares de canabinoides (CBD e THC), quando combinados com os agentes quimioterápicos foram capazes de sensibilizar as células de leucemia para seus efeitos citotóxicos. A sequência de administração desses medicamentos foi importante; usando canabinoides após a quimioterapia resultou em maior indução de apoptose, enquanto isso foi o contrário quando o esquema de administração foi revertido.  Este sinergismo com medicamentos quimioterápicos comuns permite que a dose dos agentes citotóxicos seja drasticamente reduzida e ainda assim seja eficaz. No entanto, a sequência da administração de medicamentos é crucial para o sucesso dessas combinações triplas e deve ser considerada no planejamento de tais tratamentos [4].

Referências

1.        Wasik AM, Christensson B, Sander B. The role of cannabinoid receptors and the endocannabinoid system in mantle cell lymphoma and other non-Hodgkin lymphomas. Semin Cancer Biol. 2011 Nov;21(5):313-21. [PubMed]

2.        Gustafsson K, Wang X, Severa D. Expression of cannabinoid receptors type 1 and type 2 in non-Hodgkin lymphoma: growth inhibition by receptor activation. Int J Cancer. 2008 Sep 1;123(5):1025-33. [PubMed]

3.        Singh Y, Bali C. Cannabis extract treatment for terminal acute lymphoblastic leukemia with a Philadelphia chromosome mutation. Case Rep Oncol. 2013 Nov 28;6(3):585-92. [PubMed]

4.        Scott KA, Dalgleish AG, Liu WM. Anicancer effects of phytocannabinoids used wiyh chemotherapy in leukemia cells can be im0orved by altering th sequence os their administration. 2017 Jul;51(1):369-377. [Full Text]