A síndrome de Parkinson é uma desordem neurológica de evolução lenta caracterizada por uma perda precoce, e mais acentuada do que a esperada pela idade, de neurônios dopaminérgicos no mesencéfalo.  É causada por uma diminuição intensa da produção de dopamina, que é um neurotransmissor (substância química que ajuda na transmissão do estimulo nervoso entre neurônios), particularmente numa pequena região encefálica chamada substância negra, um dos componentes dos gânglios basais. O controle motor do indivíduo é perdido ocasionando sinais e sintomas característicos. Outros fatores, genéticos e ambientais, parecem estar implicados. História familiar é importante principalmente para os casos de início precoce, antes dos 40 anos.

O quadro clínico é composto de quatro sinais principais: 1) tremores; 2) lentidão e diminuição dos movimentos voluntários (acinesia ou bradicinesia); 3) rigidez muscular e de articulações; 4) Perda de equilíbrio devido à instabilidade postural. A presença de dois ou mais destes sinais é suficiente para fazer o diagnóstico. Apesar de vários avanços em estudos pré-clínicos e clínicos, não há praticamente nenhum novo tratamento, clinicamente comprovado, para a sua cura ou controle efetivo.

A cannabis e seus canabinoides são uma opção terapêutica que pode contribuir muito para a qualidade de vida de pessoas com Parkinson.

O sistema endocanabinoide desempenha um papel regulador em vários processos fisiológicos e foi encontrado alterado em diferentes condições patológicas, incluindo distúrbios do movimento. As interações entre os canabinoides e a dopamina nos gânglios da base são notavelmente complexas e envolvem tanto a modulação de outros neurotransmissores (ácido γ-aminobutírico, glutamato, opioides, peptídeos) quanto a ativação de diferentes subtipos de receptores ( receptores canabinóides tipos 1 e 2). Além disso,  estudos experimentais contribuíram para enriquecer este cenário relatando interações entre os canabinoidese outros sistemas de receptores (TRVP1, receptores de adenosina, receptores da 5-hidroxitriptamina), todos relacionados direta ou indiretamente na doença de Parkinson [1].

Vários estudos têm demonstrado que a modulação do sistema endocanabinoide interfere na evolução da doença de Parkinson melhorando os distúrbios motores e oferecendo neuroproteção. Antagonistas dos receptores CB1 podem melhorar a bradicinesia. Por outro lado, agonistas dos receptores CB2 reduzem a resposta inflamatória iniciada na microglia, células inflamatórias localizadas no Sistema Nervoso central (SNC) [2]

Estudo realizado na USP / Ribeirão Preto, selecionou 21 pacientes com doença de Parkinson (DP) que foram divididos em três grupos com sete indivíduos cada. Um subgrupo recebeu placebo, outro recebeu 75 mg de CBD / dia e o terceiro subgrupo recebeu 300 mg / dia. O bem estar e a qualidade de vida foram, significativamente no grupo que recebeu 300 mg de CBD / dia [2]. Estudo Israelense, envolvendo 22 pacientes com Parkinson, mostrou melhora, com significância estatística, dos sintomas motores específicos: tremor (p < 0,001), rigidez (p = 0,004) e bradicinesia (p < 0,001) em favor dos pacientes que fizeram uso terapêutico de cannabis fumada [4].

Pacientes com DP consultam os médicos com mais frequência para a prescrição de canabinoides para aliviar os sintomas que podem não responder bem ao tratamento dopaminérgico. Apesar do crescente volume de pesquisas geradas no campo dos canabinoides e seus efeitos DP, ainda há escassez de dados clínicos suficientes sobre a eficácia e segurança. Há uma compreensão crescente do sistema endocanabinoide, e a distribuição dos receptores canabinoides nas estruturas dos gânglios da base pode sugerir um benefício potencial nos sintomas parkinsonianos. Com relação à pesquisa clínica, apenas um dos quatro estudos randomizados controlados com placebo conduzidos mostrou um efeito nos sintomas motores com alívio da discinesia induzida por levodopa. Há um número crescente de estudos não controlados e relatos de casos que sugerem efeitos benéficos dos canabinoides na DP. No entanto, a variedade de substâncias investigadas, as diferentes vias de ingestão, as diferentes doses e intervalos de tempo tornam difícil a comparação dos dados [5]. Bem tolerados, os fitocanabinoides tem um efeito promissor, são bem tolerados com efeitos colaterais leves e controláveis, e podem se constituir numa alternativa para melhoria da qualidade de vida de pacientes portadores de DP.

Referências

1.       Stampanoni Bassi M, Sancesario A, Morace R, Centonze D, Iezzi E. Cannabinoids in Parkinson’s Disease. Cannabis Cannabinoid Res. 2017 Feb 1;2(1):21-29 [PDF]

2.        More SV, Choi DK. Promising cannabinoid-based therapies for Parkinson’s disease: motor symptoms to neuroprotection. Mol Neurodegener. 2015 Apr 8;10:17. [PubMed]

3.        Chagas MH, Zuardi AW, Tumas V, et al. Effects  of  cannabidiol  in the  treatment  of  patients  with  Parkinson’s  disease: an  exploratory  double- blind trial. Psychopharmacol. 2014 Nov; 28(11):1088-98. [PubMed]

4.        Lotan I, Treves TA, Roditi Y, Djaldetti R. Cannabis (medical marijuana) treatment for motor and non-motor symptoms of Parkinson disease: an open label observational study. Clin Neuropharmacol. 2014 Mar-Apr;37(2):41-4. [PubMed]

5.         Buhmann C, Mainka T, Ebersbach G, Gandor F. Evidence for the use of cannabinoids in Parkinson’s disease. J Neural Transm (Vienna). 2019 Jul;126(7):913-924. [PubMed]