Avanços significativos têm aumentado a compreensão dos mecanismos moleculares envolvidos na esclerose lateral amiotrófica (ELA), no entanto isso não se traduziu no desenvolvimento de terapias eficazes. Verifica-se envolvimento concomitante de vários processos fisiológicos anormais nesta doença devastadora. Tratamentos envolvendo antagonistas de receptores celulares que induzem a produção de glutamato, um neurotransmissor cujo excesso é altamente tóxico para os neurônios que também estão envolvidos na doença de Alzheimer, antioxidantes, anti-inflamatórios, moduladores de células microgliais (pequenas células fagocitárias de defesa abundantes no SNC) e agentes neuroprotetores / neuroreparadores, são abordagens farmacológicas que, em conjunto com outras terapias suportivas, retardam ou estabilizam a evolução da ELA preservando a qualidade de vida dos pacientes afetados.

Notavelmente, a cannabis parece ter atividade, benéfica, em todas estas áreas de tratamento [1]. Dados pré-clínicos indicam que a cannabis tem efeito antioxidante, anti-inflamatório e efeitos neuroprotetores. Por outro lado, na gestão dos sintomas associados a ELA, a cannabis produz certa analgesia, relaxamento muscular, broncodilatação, redução da saliva, estimulação do apetite, e indução do sono. Estudo realizado no Department of Rehabilitation Medicine, University of Washington School of Medicine, Seattle, Washington, USA entrevistou 131 portadores de ELA, 13 dos quais relataram usar cannabis nos últimos 12 meses. Apesar do pequeno número de pacientes entrevistados, o que limita a interpretação dos inquéritos e conclusões, os resultados indicam que a cannabis pode ser moderadamente eficaz na redução dos sintomas de perda de apetite, depressão, dor, espasticidade, e salivação abundante [2].

A  a maioria dos estudos que comprovam a capacidade dos canabinoides em retardar a progressão da doença e prolongar a sobrevida na ELA foi realizada em modelo animal, enquanto os poucos ensaios clínicos que investigaram medicamentos à base de canabinoides se concentraram apenas no alívio dos sintomas relacionados à ELA, não no controle da progressão da doença [3]

Referências

1.        Carter GT, Abood ME, Aggarwal SK, Weiss MD. Cannabis and amyotrophic lateral sclerosis: hypothetical and practical applications, and a call for clinical trials. Am J Hosp Palliat Care. 2010 Aug;27(5):347-56. [PubMed]

2.        Amtmann D, Weydt P, Johnson KL, Jensen MP, Carter GT. Survey of cannabis use in patients with amyotrophic lateral sclerosis. Am J Hosp Palliat Care. 2004;21:95-104.[PubMed]

3.          Giacoppo S, Mazzon E.Can cannabinoids be a potential therapeutic tool in amyotrophic lateral sclerosis?  Neural Regen Res. 2016 Dec;11(12):1896-1899, [PDF]