A Ass. Bras. de Pacientes de Cannabis Medicinal (AMA-ME), respeitando seus princípios estatutários, tem como objetivo orientar e promover a produção científica que vise a disseminação de conhecimentos quanto ao uso medicinal da Cannabis e a consequente conscientização acerca dos benefícios e possibilidades terapêuticas decorrentes da sua utilização. Neste sentido, a AMA+ME promove o segundo Estudo Clínico que reforça o poder terapêutico dos fitocanabinoides.

O primeiro Estudo, promovido pela associação e publicado na Revista “Frontiers in Neurology”: Effects of CBD-Enriched Cannabis Sativa Extract on Autism Spectrum Disorder Symptoms: An Observacional Study of 18 Participants Undergoing Compassionate Use, completa um ano de sua publicação dia 30/10/20. Lido em todos os continentes, atingiu mais de 28.800 visualizações, foi mais acessado que 98% de todos os artigos publicados pela revista no ano e se consolida como referência internacional do uso de fitocanabinoides como adjuvante no controle do comportamento autista.

Agora, também promovido pela AMA+ME, saiu ontem mais uma publicação internacional, desta vez na respeitada Revista Científica “Pain Medice”, da Universidade de Oxford: Ingestion of a THC-Rich Cannabis oil in People with Fibromyalgia: A Randomized, Double-Blind, Palcebo-Controlled Clinical Trail . Trata-se de um Ensaio Clínico Duplo-Cego Randomizado e controlado por placebo que foi conduzido por oito semanas para determinar o benefício de um óleo de cannabis sobre os sintomas e a qualidade de vida de 17 mulheres com fibromialgia, residentes em um bairro de perfil socioeconômico carente, com alta incidência de violência, na cidade de Florianópolis (SC).

Este importante Estudo foi desenvolvido pelos colegas pesquisadores e prescritores de cannabis para fins medicinais: Dra. Carolina Chaves, Prof. Dra. Andreia Pelegrini e Prof. Dr. Paulo Cesar Trevisol Bittencourt (Neurologista do Departamento de Clinica Médica da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC), para os quais celebramos nossos maiores agradecimentos.

Desta vez, um Óleo Medicinal Integral de Cannabis spp. a 10% rico em THC (24,44 mg / mL de THC e 0,51 mg / mL de CBD) proporcionou  melhora significativa nos escores de “sentir-se bem”, “dor”, “trabalhar” e “fadiga” segundo parâmetros utilizados pelo Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ), instrumento de avaliação dos sintomas observados na fibromialgia pela American College of Rheumatology (ACR). A dose inicial foi de uma gota (± 1,22 mg de THC e 0,02 mg de CBD) por dia com aumentos subsequentes de acordo com os sintomas. O FIQ foi aplicado nos momentos pré e pós-intervenção e em cinco atendimentos durante oito semanas. O grupo que recebeu o Óleo de Cannabis apresentou uma diminuição significativa no escore FIQ em comparação com o grupo placebo ( P  = 0,005) e em comparação com o escore inicial neste mesmo grupo. ( P  <0,001).

Os autores conduziram o Estudo num Posto de Saúde da Atenção Primária do SUS, que da cobertura assistencial para pessoas residentes em um bairro da periferia, carente com alta incidência de violência na cidade de Florianópolis (SC). A amostra, composta somente por mulheres, com média de idade em 51,9 anos, usuárias do sistema público de saúde, mães, trabalhadoras, “chefes” de família, talvez retrate com fidelidade a persistente desigualdade de gênero num cenário social ainda machista, misógino e preconceituoso que vive a sociedade brasileira, principalmente nas periferias. Por outro lado, a cannabis utilizada, com alguma liberdade e aceitação, por grande parte da sociedade branca de classes sociais mais abastardas, ainda é vista como “erva do demônio da boca de fumo da favela” por muitas pessoas carregadas de ideologia, preconceitos e que não respeitam a ciência. A fibromialgia, diagnóstico ainda controverso no meio médico científico, é encarada por muitos médicos e pesquisadores como manifestação específica de uma quadro depressivo. Doença específica ou manifestação de depressão, a dor intensa, a limitação da capacidade para o trabalho e a perda da qualidade de vida é quase rotina para uma expressiva parte das mulheres brasileiras como as representadas no Estudo. Os fitocanabinoides podem ser uma terapia de baixo custo e bem tolerada para reduzir os sintomas e aumentar a qualidade de vida dos pacientes com fibromialgia, concluíram os autores. A solução pode estar na cannabis cultivada na periferia, na casa das pessoas, e não na medicação alopática de uso psiquiátrico. Além da eficácia limitada, grande quantidade de efeitos colaterais, a indisponibilidade no SUS, preço elevado que contribui para corroer o já limitado orçamento familiar, acabam por transformar o tratamento mais em transtorno que solução. O Estudo dos pesquisadores Carolina, Andreia e Paulo vai além da ciência tradicional, traz luz para questões sociais relevantes e contribui para resinificar o uso da cannabis no nosso meio.

A melhora do controle da dor com óleos derivados de Cannabis, além de trazer alívio na intensidades dos sintomas, reduz o uso de medicações opioides e corticosteroides e contribui para retomada da força de trabalho e autonomia de boa parte dos pacientes sofredores. A cada dia, cresce o número de publicações demonstrado o potencial terapêutico da Cannabis nos quadros de dor crônica intensa. Independentemente da Legislação ainda proibicionista no país, Associações de Pacientes acolhem e promovem qualidade de vida para uma grande quantidade de pacientes que até então não tinham muitas opções para recorrer. A AMA+ME apoia a regulamentação do PL 399 no Congresso Nacional para poder continuar proporcionando alívio de maneira “legal” já que nossa legitimidade está cada dia mais evidente para a comunidade científica mundial.