Doença inflamatória que acomete mais de 5 Milhões de pessoas no mundo e de incidência crescente, somente nos EUA cerca de 1,6 milhão de pessoas são afetadas pela doença a um custo direto anual superior a US $ 6,3 bilhões. A causa das Doenças Inflamatórias Intestinais (DII), e seus surtos, envolve desregulação da resposta imune, e o tratamento convencional inclui imunossupressão para induzir e manter a remissão.

A inflamação crônica no trato gastrointestinal, principalmente no íleo terminal e intestino grosso que provoca diarreia, dores abdominais, náusea, perda de apetite e peso, em graus variáveis de intensidade e cronicidade com períodos de agudização, além de um risco aumentado de câncer de intestino mais tarde durante a vida. Comum em pessoas mais jovens, algumas vezes, os processos inflamatórios levam a sangramentos importantes, perfurações, infecções e obstruções intestinais podem determinar atendimento de urgência. Os dois tipos principais são a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa.

Após o diagnóstico, muitas vezes negligenciado, o foco deve estar tratamento adequado visando redução da crise aguda e promoção da remissão. A necessidade de tomar medicamento fora da crise aguda, o alto custo destes produtos, efeitos colaterais e até mesmo a relação médico paciente são apontados como responsáveis pela adesão inferior a 50% nos tratamentos tradicionais.

As terapias imunossupressoras disponíveis oferecem benefícios limitados e perdem a eficácia deixando claro que ainda existem lacunas para um tratamento adequado. A cannabis fornece alívio sintomático aos pacientes, embora os mecanismos subjacentes aos seus efeitos anti-inflamatórios permaneçam em investigação.

O Sistema Endocanabinoide (SEC)n está intimamente relacionado à resposta imune. Canabinoides naturais e sintéticas atuam através de receptores específicos intestinais CB1, relacionado ás terminações nervosas do sistema nervoso simpático do intestino, e CB2, relacionado a células inflamatórias, para regular a permeabilidade epitelial, motilidade, secreção, bem como a migração de leucócitos, o recrutamento e a apoptose de células que podem prolongar o processo inflamatório [1].

A manipulação de várias vias do SEC na colite de roedores provou ser benéfica na atenuação da inflamação, e o caminho do SEC pode oferecer uma abordagem inovadora para melhorar o sistema regulador do hospedeiro comprometido em pacientes com DII [2].

Em um estudo observacional em 30 pacientes com doença de Crohn (CD), o grupo do Prof. Mechoulam descreveu que a cannabis medicinal foi associada à melhora da atividade da doença e redução no uso de outros medicamentos. Em um estudo mais recente controlado com placebo em 21 pacientes com doença de Crohn, que mostrou uma diminuição no índice de atividade da doença > 100 em 10 de 11 indivíduos sobre a cannabis em comparação com 4 de 10 com placebo. A remissão completa foi alcançada em 5 de 11 indivíduos no grupo de cannabis e um de 10 no grupo de placebo [3].

Os ensaios clínicos com Cannabis em pacientes que sofrem de doença inflamatória intestinal (DII) mostraram melhora na qualidade de vida, mas não forneceram evidências de uma redução dos marcadores de inflamação [4]. Mais estudos envolvendo um número maior de pacientes utilizando óleos ou extratos de cannabis ricos em CBD e/ou THC padronizados, são necessários para justificar, cientificamente, a melhoria na qualidade de vida.

Canabinoides intestino

Sistema Endocanabinoide, receptores CB1 e CB2 e a fisiologia do intestino grosso. [PubMed]

OPINIÃO AMA+ME

Sem dúvida, o sistema endocanabinoide abre as portas para a ciência na busca do melhor benefício dos canabinoides nas doenças inflamatórias intestinais. O uso, como suplemento, de um óleo de cannabis poderia diminuir a intensidade e espaçar as crises intestinais inflamatórias agudas, levando ao menor uso de antibióticos e corticoides além de internações hospitalares, pelos portadores de doença de Chron? A ciência poderá responder esta questão.

Referências

  1. Schicho R, Storr M. Cannabis finds its way into treatment of Crohn’s disease. Pharmacology. 2014;93(1-2):1-3. [PubMed]
  2. Leinwand KL, Gerich ME, Hoffenberg EJ, Collins CB. Manipulation of the Endocannabinoid System in Colitis: A Comprehensive Review. Inflamm Bowel Dis. 2017 Feb;23(2):192-199. [PDF]
  3. Naftali T, Mechulam R, Lev LB, Konikoff FM. Cannabis for inflammatory bowel disease. Dig Dis. 2014;32(4):468-74. [PubMed]
  4. Kienzl M, Storr M, Schicho R. Cannabinoids and Opioids in the Treatment of Inflammatory Bowel Diseases. Clin Transl Gastroenterol. 2020 Jan;11(1):e00120. [PubMed]